A Quarentena Nos Mostrando “O Iluminado” de Nossas Vidas Líquidas
Não é necessário dizer os motivos que levam a quarentena que
estamos passando, mas tenho visto com pessoas próximas e por relatos na
internet, como o processo de ficar consigo mesmo, está se tornando um castigo
lento e monótono. Bem, olhando esse panorama acabei fazendo alguns paralelos
sobre o momento liquido, a condição da quarentena e um filme cult.
Vamos começar pelo momento, segundo o sociólogo Zygmunt
Bauman, vivemos em tempos líquidos, o que isso significa? Temos uma vida em que
nada nem nenhuma instituição nos passam segurança, sentimos sempre a sensação
de percorrer tortuosos caminhos com nossas escolhas, que aparentemente não nos
levarão a nada, não nos entregarão nada firme para nos segurarmos.
Por
isso fugimos das reflexões sobre nossa vida, escolhas ou qualquer
questionamento que nos escancare nossas inseguranças, e nos apegamos cada vez
mais em questões superficiais, como comprar coisas para mostrar realização, construir
uma persona virtual que seja feliz, completa e segura, ou qualquer coisa que
não nos faça pensar, e nos entregue uma dose de felicidade, mesmo que seja uma
frase para um personagem que fingimos ser nós mesmos.
Com a quarentena estamos constantemente com nossa companhia,
mesmo tendo coisa para nos roubar a atenção, a ideia de não podermos ser livre
nos deixa levemente tristes e entediados. Mesmo quem geralmente escolhia ficar
em casa, antes era uma escolha, agora não, e isso nos incomoda.
Esse tempo sobrando, a quebra da rotina e a falta dos
personagens sociais que encarnamos diariamente, nos coloca em uma situação “crua”,
nos encaramos como realmente somos, e para alguns, tempo até demais, o que
causa o mal estar, quadros de ansiedade, depressão e fúria, por estarmos
sozinhos com nossos íntimos eus.
Esse fator duro que tantas pessoas estão passando me remete
ao filme “O Iluminado”, que com suas devidas proporções, (tirando uma aura meio
fantasiosa que mescla-se com a loucura) tudo que o personagem Jack Torrance
(Jack Nicholson) passa, e a forma como ele vai se perdendo dentro de si, se
aproxima muito da realidade. Quando assisti o Iluminado encarei quase que como
uma “fantasia”, mas, vendo pela ótica que se abriu nesse isolamento, o filme se
torna muito mais “palpável”, levantando a questão: O fio que separa a lucidez
da loucura se rompe na verdadeira solidão?
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